Porquê trabalhamos tanto?

Já são vinte e uma horas e ainda estou trabalhando. Hoje eu abdiquei da academia, do tempo com a família, de organizar o apartamento e do tempo para mim ou para fazer simplesmente nada. Eu gostaria de estar vendo a minha série preferida ou mesmo estar lendo as páginas do livro que comprei, mas estou aqui, na frente do computador tentando colocar o meu cliente em liberdade.

Internamente eu sei que não passei do “horário do expediente” simplesmente por honorários. Eu estou fazendo isso porque a esposa do meu cliente está há duas semanas vivendo no abrigo da cidade com duas filhas pequenas e há cerca de um mês descobriu que está gravida do terceiro filho. Ela não recebeu o auxílio emergencial do governo e não tem condições de alugar uma casa ou mesmo prover o seu sustento e da sua família. O seu marido está preso por tráfico de drogas, e se ninguém fizer nada por ele provavelmente vai ficar preso por muito tempo, porque seu comportamento carcerário nos últimos anos não foi dos melhores, e mesmo tendo resolvido “mudar de vida” no último ano, aos olhos do juiz ele é só mais um apenado. Sem história, sem projetos, sem sonhos.

Mas eu sei que a história vai muito além disso, e por isso estou aqui trabalhando. Não vou receber honorários e nem quero congratulações. Para mim ele não é um cliente especial e nem é uma pessoa que eu tenho afeição, mas eu sou a única pessoa que pode fazer a diferença na vida daquelas pessoas. Um futuro melhor, uma família reunida, uma vida nova.

Por esta razão hoje eu abdiquei de muito, para trabalhar tanto, para fazer o bem. Porque no fim de tudo ele sempre volta para nós.

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