Como eu me tornei advogada

Quando eu entrei na faculdade de Direito e talvez até aproximadamente o quarto semestre eu achava que minha vida pós formatura seria incrível. Eu me imaginava concursada e ganhando muito dinheiro aos 23 anos e principalmente um ser humano notável. Acho que todos nós imaginamos isso. Minha ideia inicial era passar em algum concurso que me pagasse mensalmente vinte mil reais, escrever um livro de Direito Constitucional que se tornasse um best seller internacionalmente reconhecido e que eu passaria o resto dos meus dias dando entrevistas sobre o quão minha vida tinha sido perfeita.

A primeira coisa que eu aprendi foi quando eu passei no meu primeiro concurso público. Na época eu era estagiária da Justiça Federal e vivia num ambiente fraterno, com pessoas que realmente se preocupavam com as outras e com uma gestão incrível. E aí eu passei no concurso para a Prefeitura da minha cidade e fui trabalhar na Secretaria de Saúde e descobri que o mundo não seria tão cor de rosa assim. Na época eu saía de casa às 6h da manhã e retornava somente depois das 22h30. Era um dia inteiro de trabalho, perdendo os almoços para fazer monografia e depois indo direto para a faculdade.

Então nesse momento eu percebi o quão eu teria que me esforçar para ser alguém realmente notável. Depois eu mudei de setor algumas vezes, trabalhei em muitos lugares e aprendi uma infinidade de coisas, mas nunca saiu da minha cabeça o quanto eu não tinha planejado aquilo que eu vivia, o quanto as coisas aconteceram inesperadamente.

Eu me formei e continuei na Prefeitura porque eu achava que precisava daquilo, da estabilidade. Foram alguns anos assim, sendo parcialmente advogada, me esforçando pela metade. O resultado eu não preciso nem contar, não funcionou, não prosperei.

Passado algum tempo eu decidi que era tudo ou nada. Eu precisava começar a minha vida épica, eu precisava começar a ser alguém da qual eu pudesse me orgulhar. Pedi exoneração. Tornei-me advogada criminalista. Queria ajudar as pessoas, queria lutar pela liberdade, queria ser aquela sobre a qual pensam quando falam sobre esforço, sobre resiliência.

No final de tudo isso eu percebi que todos os processos pelos quais eu passei foram importantes para eu me tornar quem sou hoje. Nada saiu como o esperado, mas isso me fez aprender tanto: sobre a vida, sobre humildade, sobre o tempo. Eu somente sou esse humano por todas as adversidades que passei e por todos os caminhos que percorri até hoje poder dizer que sou advogada criminalista, e sim, luto por um mundo melhor e mais humano.

Desejo a todos a mesma sorte.

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